1. Antes, bem antes de 1500
⏳ Pelo menos 3 milhões de índios viviam no litoral do que conhecemos hoje como Brasil, quando os portugueses chegaram para começar a tomar posse da terra. O impacto do encontro entre os índios e os portugueses foi tão grande que hoje restam apenas aproximadamente 1.693.535 índios em todo o país (de acordo com dados do censo de 2022, representando 0,83% do total de habitantes). A chegada dos portugueses representou para eles uma verdadeira catástrofe: aqueles que se submeteram ou foram submetidos sofreram a violência cultural, as epidemias e mortes. Os colonizadores do século XVI que promoveram o massacre às populações indígenas apenas iniciaram um processo que continua até hoje. São poucas as informações sobre os primeiros habitantes das terras americanas que chegaram até nós, pois só através da pesquisa poderemos conhecer mais sobre a língua, as características, os costumes e toda a diversidade cultural destes povos. Para os portugueses, educados pelo Cristianismo, era difícil entender as práticas indígenas. Eles consideravam estas práticas ausência de civilização ou barbárie. Estamos acostumados a ouvir que a história do Brasil começa com a chegada de Cabral. Mas, como podemos ver, nossa fascinante história começa antes, bem antes de 1500.
2. Por que tudo começou com Portugal?
⏳ Portugal foi o primeiro país da Europa a partir para a expansão marítima, quase cem anos antes que Colombo, enviado pelos espanhóis, chegasse à América. O fato que melhor explica o pioneirismo português é político: desde o século XV, Portugal era um reino unificado, diferente da França, da Inglaterra e da Itália. A unidade política de Portugal ocorreu com a Revolução de Avis (1383-1385), quando o rei e a burguesia, aliados e contando com apoio popular, organizaram um Estado voltado para a defesa dos interesses nacionais. Cinco elementos básicos caracterizam essa política que se chamou de mercantilismo: metalismo, pois a riqueza de um país era medida pela quantidade de metal que ele possuía; uma balança comercial favorável, o que significa o país vender mais do que comprar; o protecionismo do Estado para com a economia; medidas de incentivo à indústria nacional; e o colonialismo, pois a posse das colônias é que garantia o funcionamento de todo o conjunto da política mercantil. Por isso, não tardaria para que as outras nações da Europa logo entrassem numa verdadeira corrida pelas terras da América.
3. A expansão ultramarina
⏳ No século XV, eram os mercadores italianos que detinham o monopólio do comércio no mar Mediterrâneo com o Oriente. Ingleses, flamengos, franceses e ibéricos procuraram então novas rotas para ampliar o comércio e sair da crise social e da crise de mercado em que se encontravam. Este movimento que concretizou a passagem do eixo econômico do Mediterrâneo para o Atlântico é que chamamos de expansão ultramarina. Portugal foi o primeiro país da Europa a se lançar ao Atlântico, em 1415, com a tomada de Ceuta, no Norte da África. Após a tomada de Ceuta, o infante D. Henrique passou a trabalhar com os navegantes na Escola de Sagres, desenvolvendo a tecnologia necessária para as expedições marítimas mais ambiciosas, cada vez mais distantes das costas europeias tanto para o Sul, contornando a África, quanto para o Oeste, atravessando o Oceano Atlântico em direção à América. Gradativamente, os portugueses avançaram até a ultrapassagem do Cabo da Boa Esperança, em 1488, contornando a África e chegando a Calicute, na Índia, em 1489, quando passaram a comercializar diretamente com as Índias Orientais.
4. "Querendo aproveitar, dar-se-á nela tudo"
⏳ Quando, em 1498, Vasco da Gama voltou de Calicute, conta-se que trouxe em apenas uma embarcação a quantidade de mercadorias que Gênova e Veneza recebiam durante um ano. Por isso, D. Manuel, o Venturoso, preparou a mais poderosa esquadra para garantir o domínio das especiarias orientais, e é provável que, sob as ordens do Rei e orientado por Vasco da Gama, Cabral tenha se afastado intencionalmente, chegando assim às terras do que hoje é o Brasil. Depois, Cabral seguiu seu caminho para Calicute, não sem antes avisar Portugal por meio de seu escrivão-mor, que assim escreveu: "Esta terra, senhor, será tão ampla que haverá nela bem 20 ou 25 léguas por costa... Pelo Sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande... porque, a estender os olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela até agora não pudemos ver se há ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro nem o vimos. Porém a terra em si é de muitos bons ares (...). As águas são muitas, infinitas. Em tal maneira e graciosa que, querendo aproveitar, dar-se-á nela tudo (...) Deste Porto Seguro, da vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, 1º de maio de 1500, Pero Vaz de Caminha".
5. Cabral descobriu o Brasil em 22/04/1500?
⏳ Cabral não se chamava Cabral quando chegou ao continente americano, mas Pedro Álvares Gouveia. Ele só passou a se chamar Cabral anos mais tarde, quando morreu seu irmão mais velho. Naquela época, em Portugal, só o filho mais velho recebia o sobrenome do pai, no caso, Cabral; os outros ficavam só com o sobrenome da mãe. Ele não "descobriu", mas veio reconhecer e iniciar o processo de tomada de posse da terra para os portugueses, uma visita oficial, uma conquista.. Não era Brasil o que ele encontrou, mas uma porção de terra que chamou de Terra de Vera Cruz e que só depois da assinatura de muitos tratados passou a se constituir territorialmente no Brasil. Não foi em 22 de abril que tudo teria começado. Ora, devido à mudança do calendário juliano para o gregoriano, em 158, quando o calendário sofreu um avanço de 11 dias para um ajustamento, o 22/04/1500 corresponde, no calendário atual, a 3/05/1500. Então, podemos afirmar que Cabral descobriu o Brasil em 22/04/1500?
6. Havia crianças nas embarcações
⏳ Cerca de metade das crianças nascidas em Portugal entre os séculos XIV e XVIII morria antes de completar os 7 anos. Portanto, no período das grandes navegações, a vida das crianças não tinha muito valor para os pais, que estavam sempre preparados para perder quase metade de seus filhos. Não foram poucas as vezes que os filhos foram entregues, em troca de dinheiro, para viajar nas embarcações que atravessavam o oceano Atlântico como grumetes e pajens. A Coroa Portuguesa recrutava mão-de-obra entre as famílias pobres das áreas urbanas, especialmente os órfãos e pedintes. Pela sua fragilidade, eram as crianças que mais sofriam e que mais facilmente morriam nas viagens, que podiam durar quase um ano. E, dentre todos os embarcados, crianças e adultos, os grumetes é que tinham as piores condições de vida. Eram crianças de não mais que 12 anos, que dormiam ao relento, executavam as mesmas tarefas que os adultos, apesar de receberem um sodo que era menos da metade que o de um marujo. A exploração do trabalho infantil, que é uma marca do nosso país ate hoje, estava presente nos primeiros contatos dos europeus com a América.
7. Depois de aproximadamente 30 anos inicia-se a colonização
⏳ Em 1493, através da bula Intercoetera, e em 1494, através do Tratado de Tordesilhas, as terras americanas foram divididas entre Portugal e Espanha, os primeiros países europeus a realizarem as Grandes Navegações. Logo em seguida, outros países da Europa começaram a questionar este domínio, pois estavam prontos para buscar também colônias para explorar. Francisco I, da França, chegou a exigir o testamento de Adão e Eva que doava as terras a Portugal e Espanha. A ameaça estrangeira, a descoberta de metais preciosos nos atuais México e Peru somados à ameaça estrangeira levaram, então, Portugal a mudar sua atitude em relação às terras americanas. Depois de aproximadamente 30 anos da chegada de Cabral, começa a colonização das terras que até então não tinham recebido maiores investimentos. Afinal, todas as atenções de Portugal estavam voltadas para o Oriente, que era mais lucrativo. Os investimentos para as terras da América eram mínimos: o policiamento da costa e o comércio com o pau-brasil, feito através da troca do trabalho indígena de extração da árvore por quinquilharias.
8. A Igreja Católica em xeque-mate
⏳ No período em que Portugal e Espanha se lançaram para as Grandes Navegações, a Igreja Católica enfrentava uma grande crise que foi chamada de Reforma e que causou a chamada Contra-Reforma. Depois de muitos anos sendo a única na Europa Ocidental, a Igreja Católica teve seu poder contestado, sofrendo divisões e perdendo muito do seu poder. A Europa em geral estava se modificando em todos os sentidos: as terras da Igreja interessavam aos reis, que começaram a concentrar o poder político, e a valorização do homem substituía as teorias baseadas na fé com o Renascimento colocando a Igreja Católica em xeque-mate. A saída para tal situação de crise foi a busca de fiéis nas terras que estavam sendo colonizadas na América, e, para isto, foi criada a Companhia de Jesus. O fato de os reis de Espanha e Portugal terem se mantido fiéis ao Catolicismo facilitou a ação da Igreja Católica na América, mas muitos conflitos entre os religiosos que vieram para catequizar os indígenas e os representantes dos reis aconteceram nesse período. Especialmente no caso da escravidão indígena: os jesuítas eram contra esta prática, que foi largamente empregada pelos conquistadores.
9. Grande propriedade, monocultura, escravos ⏳ Como os portugueses levaram muitos anos para encontrar ouro, a colonização foi organizada no sentido de oferecer ao comércio europeu gêneros alimentícios de grande importância. A Coroa Portuguesa incentivou a empresa comercial com base em produtos tropicais exportáveis em grande escala, no caso o açúcar, assentada na grande propriedade. O objetivo era atender aos interesses de acumulação de riquezas em Portugal, mas a exploração do Brasil acabou atingido toda a economia europeia, até que Portugal não possuía o controle do comércio europeu, que estava nas mãos de ingleses, espanhóis e holandeses. O terceiro e último elemento que caracteriza a colonização do Brasil é o trabalho compulsório. A escravidão africana foi uma alternativa lucrativa para o mercantilismo português. Estima-se que, entre 1550 e 1855, entraram pelos portos brasileiros 4 milhões de escravos africanos, a grande maioria jovens e do sexo masculino. Ao mesmo tempo, a colônia assistia a uma verdadeira catástrofe demográfica com a morte de milhares de indígenas atingidos por doenças.
10. O mapa do Brasil
⏳ Em 1640, com a fundação da Colônia do Sacramento, defronte a Buenos Aires, Portugal oficializou seu interesse em dilatar as fronteiras do Sul do Brasil. Os colonos espanhóis, como resposta, fundaram, então, Montevidéu, junto à Colônia do Sacramento. O choque com os interesses espanhóis nessa região era inevitável porque pelo Rio da Prata escoavam as mercadorias que iam para a zona de mineração, no atual Peru, bem como a prata que vinha de contrabando nas minas. Os ingleses atuaram com os portugueses neste contrabando que prejudicava os interesses espanhóis. O Tratado de Utrech, o Tratado de Madri, o Convênio do Pardo, o Tratado de Santo Ildefonso e o Tratado de Badajós comprovam o complexo jogo diplomático que se seguiu à fundação da Colônia do Sacramento e que envolveu também a região dos Sete Povos das Missões. O Tratado de Badajós (18018) acabou definindo que a Colônia do Sacramento ficaria para a Espanha e se omitiu em relação aos Sete Povos das Missões que acabou sendo recuperado para o Rio Grande do Sul, posteriormente. Assim, lentamente foi se desenhando o mapa do Brasil tal como o conhecemos hoje.
11. A medicina na Colônia
⏳ Durante os primeiros tempos da colonização das terras que hoje pertencem ao Brasil, a doença era explicada através de uma mistura entre medicina e religião. A medicina portuguesa não acompanhou os avanços que entre 1620 e 1650 levaram o progresso científico para a França, a Inglaterra e a Holanda. Nos séculos XVI e XVII, os jesuítas, o Tribunal do Santo Ofício e a Coroa uniram-se contra qualquer nova iniciativa científica ou cultural. A Inquisição perseguia todos os que se desviavam do fervor ortodoxo defendido então pela Igreja Católica. Os intelectuais que procuravam avançar nos estudos científicos eram perseguidos pela Igreja e pelo rei pois as atividades científicas eram consideradas uma heresia. Portanto, o discurso médico inscrevia-se naturalmente dentro do discurso da Igreja. A doença era relacionada com a culpa, com o pecado, com o castigo. Deus estaria castigando seus filhos com males físicos que tinham a função de purificar suas almas. Alquimia, magia, astrologia e empirismo misturavam-se, mantendo a medicina portuguesa no obscurantismo. E o que era válido para a metrópole, Portugal, era igualmente válido para a colônia, o Brasil.
12. A administração colonial
⏳ Para o sistema mercantilista português o ideal seria organizar a colônia de forma a implantar uma administração eficiente, capaz de assegurar a posse da terra e os interesses econômicos metropolitanos. Mas para isso eram necessários recursos que Portugal não possuía, especialmente levando-se em conta o tamanho da colônia. A primeira solução encontrada, de baixo custo e que já fora aplicada nas ilhas africanas, foi o sistema de Capitanias Hereditárias: o rei dividiu as terras brasileiras em 15 lotes e doou-as a 12 capitães donatários. Os documentos que legalizavam esta relação entre a Coroa e os capitães eram a Carta de Doação e o Floral. Os capitães donatários tornavam-se governadores das terras. Este sistema, porém, não garantiu a ocupação humana e econômica da colônia, que era muito grande e dispersa, difícil de controlar. Então, em 1548, criou-se ainda o cargo de governador-geral, subordinando os capitães e centralizando a administração. A colônia esteve também dividida em regiões administrativas. Em 1720, os governadores-gerais passaram a chamar-se vice-reis.
13. AS TREZE COLÔNIAS
⏳ Enquanto portugueses e espanhóis ocuparam a América do Sul e Central, formando as chamadas colônias de exploração, baseadas no latifúndio, na monocultura para exportação e na mão de obra escrava africana, na América do Norte, ingleses fugidos das perseguições religiosas participavam da formação das Treze Colônias. Ao Norte da América do Norte surgiram as chamadas colônias de povoamento, a Nova Inglaterra. As condições climáticas daquela região, por serem semelhantes às da Inglaterra, não ofereciam atrativos para a metrópole, que buscava as regiões tropicais. Ali se desenvolveu a agricultura de subsistência, em pequenas propriedades e utilizando mão de obra familiar e assalariada. Devido a uma certa autonomia, desenvolveram manufatura e o comércio se expandiu. Ao Sul da América do Norte, a Inglaterra implantou o sistema de colônias de exploração da mesma forma que os portugueses e os espanhóis. No Centro foram criadas colônias de transição, com o objetivo de inibir o comércio das colônias do Norte com as do Sul. Hoje podemos facilmente concluir que esse comércio foi próspero e fundamental para a superação da condição de dependência dos Estados Unidos.
14. PLANTATION
⏳ Até a segunda metade do século XVIII, o Agreste permaneceu essencialmente uma área de pecuária que foi gradativamente substituída pela agricultura do algodão. A pecuária então foi empurrada para o Sertão, ainda que as condições naturais fossem pouco favoráveis. A Zona da Mata estava ocupada pela cana-de-açúcar e pelo tabaco. No extremo Sul da colônia, a criação de gado, introduzida pelos missionários jesuítas, passou a abastecer de alimentos e couro a população das Minas Gerais, com a descoberta do ouro. No extremo Norte eram as drogas do Sertão que despertavam a cobiça de franceses, ingleses e holandeses. Ainda assim, é a plantation que mais representa essa fase da história do Brasil conhecida como o período colonial. Plantation é uma palavra inglesa que significa monocultura para exportação em grande propriedade. Por que sua importância? Porque foi esse sistema que as mais profundas marcas deixou no Brasil até hoje: a grande propriedade ou o latifúndio, o papel de exportador de uns poucos produtos primários nos negócios internacionais, a dependência econômica em relação ao exterior e a discriminação racial, resultado da escravidão africana.
15. OS FRANCESES NO BRASIL
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